A consolidação do comércio eletrônico como hábito de consumo
O hábito de comprar pela internet, que em 2019 já se mostrava amplamente difundido entre os consumidores de Belo Horizonte, deve ser compreendido como um processo estrutural de transformação do consumo, e não como uma tendência pontual. A pesquisa realizada pela CDL/BH naquele período registrou que mais de oito em cada dez consumidores da capital mineira já utilizavam o comércio eletrônico, evidenciando que o e-commerce havia ultrapassado a fase de adoção inicial.
Esse dado, quando analisado sob a perspectiva atual, ganha ainda mais relevância. Ele representa um ponto de inflexão histórico, anterior a eventos que acelerariam de forma definitiva a digitalização do consumo no Brasil.
Fundamentos conceituais do crescimento das compras online
A expansão do comércio eletrônico está diretamente associada a fatores estruturais, como maior acesso à internet, evolução dos dispositivos móveis, amadurecimento das plataformas digitais e aumento da confiança do consumidor.
Em 2019, a motivação central ainda estava fortemente ligada a preço, conveniência e possibilidade de comparação. O consumidor começava a perceber que a internet não era apenas um canal alternativo, mas um ambiente eficiente para tomada de decisão, pesquisa e compra.
Esse movimento sinalizava uma mudança cultural: comprar online deixava de ser exceção e passava a integrar o cotidiano do consumidor urbano.
Implicações práticas para empresas e varejistas
Para empresas, os dados da pesquisa da CDL/BH já indicavam que não estar presente no ambiente digital significava perder relevância. A maioria dos consumidores pesquisava preços, comparava ofertas e realizava compras sem a necessidade de contato físico com a loja.
Na prática, isso exigia adaptação de canais, revisão de processos logísticos, meios de pagamento adequados e comunicação digital estruturada. O comércio eletrônico deixava de ser complementar e passava a disputar protagonismo com o varejo físico.
Empresas que compreenderam esse cenário antecipadamente conseguiram construir vantagem competitiva nos anos seguintes.
A pesquisa de 2019 como marco histórico
O levantamento realizado entre 15 e 29 de março de 2019, com consumidores abordados nos principais corredores comerciais de Belo Horizonte, revelou não apenas a adesão ao e-commerce, mas também a frequência de uso.
Quase metade dos entrevistados afirmou comprar sempre ou quase sempre pela internet. Outros grupos indicavam compras regulares em intervalos mensais ou bimestrais, o que demonstra recorrência e não apenas experimentação.
Esse comportamento reforça que, já naquele momento, o comércio eletrônico havia se tornado parte da rotina de consumo da capital.
Fatores que impulsionavam a decisão de compra online
O preço mais competitivo apareceu como principal fator, seguido pela comodidade de não precisar se deslocar e pela agilidade do processo de compra. A possibilidade de comparar valores em tempo real também foi citada como diferencial relevante.
Esses elementos mostram que a decisão não era apenas econômica, mas também funcional e comportamental. O consumidor valorizava controle, autonomia e eficiência.
Esses mesmos fatores continuariam a impulsionar o e-commerce nos anos seguintes, com intensificação progressiva.
Evolução do comportamento até 2025
Entre 2019 e 2025, o crescimento do comércio eletrônico foi acelerado por fatores adicionais. O avanço natural das tecnologias, a popularização do acesso à internet móvel e, de forma decisiva, o período da pandemia de COVID-19 alteraram definitivamente o comportamento de compra.
Durante a pandemia, a compra online deixou de ser apenas conveniente e passou a ser a opção mais segura e viável. Consumidores que ainda tinham receios ou dificuldades foram forçados a experimentar o e-commerce, superando barreiras psicológicas e operacionais.
Esse processo consolidou o hábito. Em 2025, o percentual de consumidores que compram pela internet é substancialmente superior ao registrado em 2019, não apenas em Belo Horizonte, mas em todo o país.
Frequência, horários e padrões de consumo
A pesquisa já indicava que o período noturno era o preferido para compras online, especialmente nos fins de semana. Esse padrão se mantém até hoje e está relacionado à disponibilidade de tempo e ao uso doméstico da internet.
A recorrência de compras também demonstrava maturidade do canal. Compras quinzenais, mensais ou até diárias apontavam para integração do e-commerce à rotina, e não para uso esporádico.
Esses padrões ajudaram empresas a ajustar estratégias de comunicação, campanhas e atendimento ao longo do tempo.
Categorias de produtos e tíquete médio
Os dados de 2019 mostravam destaque para eletrônicos, móveis e artigos de decoração, seguidos por vestuário, calçados, acessórios e itens de uso doméstico. O tíquete médio girava em torno de R$ 400, com variações conforme o segmento.
Esses números reforçavam que o consumidor já confiava no ambiente digital para compras de maior valor, algo que historicamente representava uma barreira inicial do e-commerce.
Hoje, essa confiança se expandiu para praticamente todas as categorias, incluindo itens recorrentes e serviços.
Meios de pagamento e amadurecimento financeiro
O parcelamento no cartão de crédito liderava como forma de pagamento, seguido pelo boleto bancário. Esse cenário refletia tanto a cultura de parcelamento quanto estratégias de desconto oferecidas pelas lojas virtuais.
A diversidade de meios de pagamento foi essencial para ampliar adesão. Ao longo dos anos, a evolução incluiu carteiras digitais, pagamentos instantâneos e maior integração financeira, reduzindo fricções no processo de compra.
Integração entre pesquisa, canais e decisão
Outro dado relevante da pesquisa foi a multiplicidade de canais utilizados na decisão de compra. Consumidores pesquisavam em lojas online, buscadores e até lojas físicas antes de concluir a compra.
Isso reforça que o processo de compra já era multicanal em 2019. O consumidor transitava entre plataformas, comparava informações e tomava decisões de forma mais consciente e informada.
Esse comportamento se intensificou nos anos seguintes, exigindo das empresas presença consistente em diferentes pontos de contato.
Limitações e leitura crítica dos dados
Embora a pesquisa represente um recorte específico de tempo e local, seu valor está em evidenciar uma tendência clara e consistente. Os números absolutos mudaram, mas a direção do comportamento se confirmou e se acelerou.
Interpretar esses dados como fotografia histórica permite compreender como o comércio eletrônico chegou ao patamar atual e por que ele se tornou indispensável.
O comércio eletrônico como hábito consolidado
O que em 2019 já se mostrava como forte tendência tornou-se, em 2025, um hábito plenamente consolidado. O consumidor brasileiro incorporou a compra online à sua rotina, não apenas por preço, mas por eficiência, segurança e praticidade.
Para empresas, a lição permanece clara: o e-commerce não substitui completamente o varejo físico, mas passou a ocupar um papel central e irreversível na estratégia de vendas e relacionamento com o cliente.
